O Pantanal, maior planície inundável do planeta em extensão contínua, enfrenta mais uma ameaça. Depois de ter sido drasticamente afetado pelos incêndios em 2020 e 2021, o bioma pode sofrer danos ambientais irreversíveis, em sua porção no Mato Grosso do Sul, caso áreas naturais da planície sejam convertidas em plantio de soja de larga escala.
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Quem faz o alerta por meio de uma campanha de sensibilização junto à sociedade civil e ao Poder Público é o Instituto SOS Pantanal, que lançou uma petição on-line para recolher assinaturas de apoio à causa.
De acordo com o instituto, atualmente existem menos de 3 mil hectares plantados de soja dentro da planície pantaneira no Mato Grosso do Sul, localizados nos municípios de Coxim, Miranda e Aquidauana.
Pode parecer um número pequeno, mas há um risco efetivo de crescimento destas áreas nos próximos anos, podendo afetar seriamente o equilíbrio do meio ambiente. Os investimentos em infraestrutura como estradas e aterros dentro da planície vão facilitar a produção e seu escoamento em um futuro próximo.
“Diante desse cenário, a hora de pautar e direcionar esforços nessa legislação é agora, quando ainda há poucos hectares de soja na planície e não há tempo a perder”, enfatiza o presidente do SOS Pantanal, Alexandre Bossi, sobre a urgência de sensibilizar a todos – sociedade civil, opinião pública, ambientalistas e a classe política do Mato Grosso do Sul – sobre os riscos que o amplo cultivo de soja pode acarretar.
Ainda de acordo com Bossi, o Estado vizinho, Mato Grosso, já possui uma legislação que impede o cultivo de soja na planície. “O Mato Grosso do Sul deveria seguir o mesmo caminho. Viemos alertar sobre o futuro da planície e trazer à tona futuros problemas e, com eles, possíveis soluções, inclusive econômicas”, diz.
Segundo Figueiroa, no Pantanal, por ser uma grande extensão alagável, o risco de malefícios gerados por uma produção agrícola em larga escala é potencializado por conta da utilização de moléculas de ação biocidas (inseticidas, fungicidas, herbicidas e nematicidas), que visam ao controle de pragas, doenças e plantas invasoras.
Esses produtos possuem compostos poluidores, como metais pesados, surfactantes e emulsificantes, dentre outros, que, quando entram em contato com o solo, não há barreira física que os impeça de contaminar a água de todo o sistema, afetando esse bioma que é abrigo de uma rica biodiversidade e de populações tradicionais.
“A natureza fala mais alto nesse bioma e precisa ser respeitada. Há pelo menos 4.700 espécies, sendo 3.500 de plantas, 650 de aves, 124 de mamíferos, 80 de répteis, 60 de anfíbios e 260 de peixes de água doce, sendo que algumas delas em risco de extinção. Não podemos permitir que esse equilíbrio seja abalado por uma atividade altamente destrutiva como os plantios de soja em larga escala”, pondera.