Por que somos campeões mundiais de chuva por Peter Milko* Nesse mês que comemoramos o Dia Mundial da Água, vale refletir sobre o papel da Amazônia na circulação de água do continente sulamericano.
Já fazem décadas que se sabe que a evaporação na Amazônia e a transpiração da floresta criam enorme quantidade de umidade na atmosfera. Essa água armazenada nas nuvens, batizada como “rios voadores”, é empurrada pelos ventos para oeste, até a Cordilheira dos Andes, onde faz uma curva e segue para o centro do continente, tornando-se responsável por grande parte das chuvas que caem no centroeste e sudeste do Brasil (clique aqui para ver a animação).
O desmatamento na Amazônia influi diretamente nesse processo. É fácil compreender que se retirarmos a floresta em proporção significativa, esse processo de evaporação e transpiração fica bem menor, os rios voadores carregam menos umidade e as chuvas vão diminuir: vamos deixar de ser campeões mundiais de chuva!
As consequências disso são bem fáceis de prever: menos produção agrícola, menos geração de energia pelas hidroelétricas, falta de água potável nas cidades. Será que alguém quer que isso aconteça?
Portanto, quando você observar os esforços para acabar com o desmatamento da Amazônia, lembre-se que isso é do seu interesse: caso contrário, vai faltar água, comida e energia.
Texto por Peter Milko (Diretor geral da Horizonte Educação & Comunicação.)
Esse artigo é uma homenagem à memória de Gerard Moss, explorador, piloto, escritor e ambientalista suíço-brasileiro que percorreu os ares do Brasil a bordo de seus aviões monomotores, auxiliando nas pesquisas que confirmaram o mecanismo dos rios voadores na América Latina. Ele faleceu há um ano, em 16 de março de 2022. Para saber mais do seu importante trabalho relacionado com os rios voadores clique aqui.
De 2008 a 2017, a presença da carne aumentou 12% no prato dos brasileiros de todas as faixas de renda. Por isso, o consumo deste alimento contribui com 86% da pegada de carbono da dieta, um indicador de emissão de carbono na atmosfera. Os dados são da análise de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) publicada no periódico científico “Environment, Development and Sustainability”.
O estudo foi realizado a partir da análise da Pesquisa de Orçamento Familiar, nos anos 2008 e 2017, que divulgou informações sobre consumo individual e também do preço dos alimentos. “Juntar informações sobre consumo e preço dos alimentos não é muito comum na literatura científica. Essa é uma inovação do artigo”, explica Aline Martins de Carvalho, docente da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Nele são especificadas as características do consumo de acordo com cada tipo de carne. Entre todos os grupos, o consumo de peixe reduziu 23%; de porco aumentou 78%; frango, 36%; e a carne bovina não apresentou mudanças expressivas no consumo no período analisado, apesar de ser a carne mais consumida pelo brasileiro.
A partir de um recorte de renda, os pesquisadores constataram que as famílias mais pobres, com menos de meio salário mínimo por pessoa, não aumentaram o consumo total de carne no período analisado. Este grupo reduziu o consumo de peixe, mas as refeições com frango e porco aumentaram. Dessa forma, seu impacto ambiental foi menor que os demais grupos. Entretanto, isso pode ter se dado pelo preço, acesso e aspectos sociais envolvidos no consumo de carne.
De acordo com Carvalho, o consumo da carne em altas quantidades impacta o meio-ambiente e a saúde das pessoas, aumentando o risco de quadros de câncer de intestino, hipertensão, diabetes e obesidade.
Ou seja, reduzir o seu consumo é uma saída importante, mas não é a única para melhorar a saúde das pessoas e do planeta. “Também é preciso verificar relações de preço, acesso, cultura, consumo e sustentabilidade nos diferentes grupos econômicos”, recomenda a pesquisadora.
Além disso, a nutricionista reforça a importância de discutir os impactos do consumo de carne com a população por meio das políticas públicas. “É necessária também uma abordagem inter e transdisciplinar para investigar as variações do consumo de carne no Brasil, com foco nos valores e na intencionalidade dos sujeitos”, conclui a autora do artigo.
Se na região amazônica, original da espécie, programas de manejo são feitos para retirar o Pirarucu da lista de espécies ameaçadas de extinção, longe dali esse tipo de peixe tem se tornado cada vez mais comum.
Segundo Rogerio Machado, ecólogo e analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (CEPTA), órgão ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o rompimento de tanques de piscicultura de criadouros particulares, há quase 14 anos, possibilitou que os primeiros peixes da espécie pirarucu tivessem acesso ao rio Grande, entre as Usinas Hidrelétricas de Água Vermelha e de Marimbondo.
Segundo especialistas, a espécie encontrou no trecho do rio um ecossistema muito parecido com seu habitat natural na Amazônia, principalmente por conta das águas sem correnteza.
“Os rios dessa região estão muito modificados e para pior. Assim, enquanto as espécies nativas demonstram ser mais sensíveis a essas alterações e por isso estão em declínio; as espécies não nativas, como o pirarucu, são mais resistentes, não demonstram muitas exigências e conseguem aproveitar os poucos recursos que ainda existem”, explica Lilian Casatti, pesquisadora do Laboratório de Ictiologia da Unesp.
Os primeiros pirarucus foram avistados na região em 2010. Porém, foi apenas em 2015 que pesquisadores conseguiram fazer o primeiro registro científico da introdução da espécie no local.
A introdução de uma espécie não nativa que se alimenta de outros animais aquáticos é a grande preocupação dos pesquisadores que estudam os impactos da reprodução do pirarucu no rio Grande.
“Estamos falando de uma espécie predadora de topo de cadeia alimentar, e um animal de grande porte, que consome outras espécies de peixes de menor porte”, apontou Igor Paiva Ramos, pesquisador da Unesp de Ilha Solteira.
Estudos apontam que, até o momento, o pirarucu apenas habita o trecho entre a Usina Hidrelétrica de Marimbondo e da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha – duas barragens construídas na década de 1970 para a produção de eletricidade – que corresponde a uma distância de aproximadamente 120 quilômetros em que o rio Grande divide os territórios de São Paulo e Minas Gerais.
Contudo, o receio é que nos próximos anos a espécie ganhe os afluentes do rio Grande e comprometa as relações ecológicas de outros rios do interior de São Paulo.
“Talvez daqui 15 anos, as próprias espécies nativas mostrem os primeiros sinais de adaptação de vivência com o pirarucu no rio Grande, mas até lá é necessário um manejo e controle do número de exemplares”, afirma o ecólogo Rogerio Machado.
Estímulo à pesca, manejo da espécie e novas pesquisas científicas são apontados por especialistas como possíveis soluções para remediar os problemas que o pirarucu pode gerar no rio Grande nos próximos anos.