Crescemos escutando que o Brasil é um país “abençoado por Deus”, afinal, temos uma
das maiores reservas de água doce do planeta – cerca de 12%. Com isso, o inconsciente
coletivo transita muito pela ideia de que: já que temos tanta água, ela estará sempre
disponível. O que não é verdade.
Para além dos níveis atuais dos reservatórios, temos o problema da desigualdade da
distribuição dessas reservas. A região Norte tem 6% da população e 70% da água doce;
já a região Sudeste tem 40% da população e 6% da água doce. No Nordeste, onde
vemos constantemente problemas de seca, há pouco mais de 3% da água doce e 29% da
população. Ou seja, no Brasil onde há mais pessoas, há menos água.
Falta de acesso à água
Ainda temos mais de 35 milhões de brasileiros que não têm acesso à rede de
abastecimento de água potável, de acordo com os últimos dados do Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento (SNIS).
Muito disso acontece por conta das perdas de águas. Vazamentos, erros de leitura e
furtos representam cerca de 38% de perdas, ocasionando sérios problemas em regiões
que passam por estresse hídrico constante, como sudeste e nordeste.
Aliado às perdas, as mudanças climáticas, que impactam diretamente nos níveis dos
reservatórios, mostram que precisamos cada vez mais nos atentar a forma com que
consumimos água e de que a ideia de que ela é abundante está cada vez mais
ultrapassada.
Como nos relacionamos com a água?
Muitos de nós continuam lavando calçadas, quintais e carros com mangueiras
abastecidas direto da rede e por água potável. Ao transitar pelas cidades e olhar para rios
e córregos é comum notar que eles são confundidos com lixeiras. Sacos de lixo, garrafas
PET, eletrodomésticos, sofás e até mesmo carros estão boiando por eles.
E o tratamento da água que sai por nossos ralos também é um problema. Estimativas
feitas pelo Instituto Trata Brasil mostram que jogamos, por dia, cerca de 5 mil piscinas
olímpicas de esgoto não tratado, prejudicando diretamente a saúde da população e
causando transtornos ambientais.
O saneamento é a infraestrutura mais básica de uma sociedade, a que traz mais
benefícios à saúde das pessoas e ao meio ambiente.
As vantagens de expansão do saneamento básico e redes de esgotos são inúmeras, além
da valorização imobiliária, econômica, educacional e diminuição da proliferação de
doenças que coloca em risco à saúde de toda população, especialmente das crianças.
E com isso temos a lição de que a forma com que lidamos com a água precisa mudar e
não importa em que esfera que estamos, sociedade civil ou poder público, cuidar para
que ela não acabe é um dever de todos.